UMA RESENHA SOBRE O ESPETÁCULO “60! DÉCADA DE ARROMBA – DOC. MUSICAL”


Sinceramente, apesar de amar musicais, esse não tinha chamado minha atenção e fui assisti-lo para prestigiar um amigo meu de adolescência super querido que estava tocando. Seu nome é Fred Godoy e ele é um dos pianistas. Minha ida ao espetáculo já tem uma representação histórica de uma época muito boa de nossa adolescência, no colegial (atualmente se chama ensino médio), em meados dos anos 90.
Intuitivamente, convidei minha mãe para ir comigo, mais pela companhia do que por achar que o musical significava alguma coisa pra ela. Até porque, ela nem é fã da Wanderléa, cantora que é o chamariz desse espetáculo. E minha mãe foi porque convidei.
Chegando lá, a faixa etária era a da minha mãe e já comecei a pensar que ela foi a pessoa certa para eu convidar.
O cenário me pareceu simples e algumas partes da estrutura até atrapalhavam a minha visão, pois fiquei no canto do teatro. Porém, já gostei de várias imagens, pois me toquei que adoro os anos 60! Tinha uma TV, um aparelho de rádio, um totem do Elvis Presley, um pedaço de um fusca pendurado, um telefone antigo, enfim, vários objetos dessa época.
Poucos minutos antes de começar o espetáculo, entrei num site de busca e li a sinopse e só então vi que seriam vários atores/cantores/dançarinos e vários músicos. (Eu não tinha entendido quando o Fred me contou e também não fui pesquisar.)
Uma pessoa veio explicar o que era o documentário musical e como ele foi concebido, contando que as músicas seguiriam uma ordem cronológica e que as pessoas poderiam cantar. Já comecei a achar interessante.
Quando iniciou o espetáculo, a estrutura que estava me incomodando revelou ser uma representação de uma tela de TV gigante e, como ela era toda furadinha, dava para ver o fundo do palco, pois dava uma certa transparência.
Nesse telão, começaram a projetar momentos históricos por cronologia, ano por ano, apenas os mais significativos. Só fiquei triste por notar que a banda não aparecia muito. Eles ficavam atrás de um painel, que só se abria de vez em quando. Só pude ouvir o Fred tocar. Quer dizer, acho que era ele quando eu ouvia o teclado. (Ou será que era o outro pianista? Prefiro pensar que era o Fred.)
Mais de duas horas e meia de espetáculo, eu apertada para ir ao banheiro, apenas um intervalo curto entre dois atos, e eu nem senti a hora passar. A Wanderléa só apareceu quase duas horas depois, mas quer saber? Nem senti sua falta. Os atores/cantores/dançarinos são excelentes. Dois deles em especial me fizeram ficar arrepiada e emocionada. Claro que juntando ao contexto que estava sendo projetado nessa tela gigante.
Fiquei perplexa comigo mesma, pois não imaginei que essa época mexesse tanto comigo. Fiquei emocionada várias vezes, a ponto de achar que meu rímel tinha ficado todo borrado. Os momentos históricos, as músicas, a própria dança (que me fez lembrar a época em que eu dançava jazz e amava isso).
Os momentos históricos que mais me comoveram? Nem me lembro direito, mas alguns (sem ordem cronológica, creio que mais por ordem emocional mesmo) são: discurso e morte de Martin Luther King, Marilyn Monroe cantando “Happy birthday” para o presidente Kennedy, o assassinato de Kennedy, a guerra no Vietnã, a construção do muro de Berlim, eleição do populista Jânio Quadros, suas censuras e depois sua renúncia, a ditadura militar e o movimento cultural que acompanhou e protestou contra ela (o Tropicalismo), o filme La Dolce Vita, o filme Psicose (amo Hitchcock), a publicidade e a mentalidade machistas, o começo do feminismo, os Beatles, movimento paz e amor de Woodstock etc.
Honestamente, pra mim, a Jovem Guarda ficou pequena perto de tudo isso! Porém, me fez refletir sobre como as músicas refletem as situações sócio-político-comportamental-culturais (nossa, nem sei se saiu num português correto) de cada época. Um momento de romantismo, educação e respeito com o outro. E o que a música da atualidade reflete? Bem, nem preciso comentar. Basta ligar a TV ou ouvir no rádio ou ver nos aplicativos de música quais são os principais artistas que aparecem na primeira página.
Fiquei pensando sobre a política da época e em como estamos resignados com nosso momento político atual, uma vergonha. Apesar da ditadura ter sido extremamente censora e violenta, as pessoas se rebelavam, se posicionavam, ainda que com medo. (Minha mãe viveu isso na faculdade quando ela estudou na USP.)
Mesmo com tantos meios de comunicação, como as mídias sociais, não conseguimos mais construir bons argumentos, parece não termos mais crítica diante dos acontecimentos. Isso me deixa triste e revoltada.
Como diria meu amigo, colega e parceiro de trabalho, psicólogo e psicodramatista, Rosalvo Pires, nós, psicólogos, somos formadores de opinião e devemos ter posicionamento político. Foi por este motivo que decidi escrever a resenha desse documentário musical, que apesar de ter sido criticado por muitas pessoas, me ajudou a refletir sobre vários aspectos.
Ah, e por que eu achei que convidar minha mãe foi a escolha certa? Primeiro porque ela viveu tudo isso, segundo porque ela é uma pessoa muito politizada e pudemos debater sobre vários assuntos depois do espetáculo, terceiro porque tinha que ser ela e foi por causa dela que eu escolhi a psicologia como minha missão de vida.

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