RELACIONAMENTOS ABUSIVOS


Conforme o prometido no post da semana passada, “Como fazemos escolhas afetivo-sexuais (segundo a Sociometria)”, neste texto falarei sobre relacionamentos abusivos.
Você conhece pessoas ou já ouviu alguém contar que conhece alguém que está em um relacionamento abusivo?
Já notou que é muito difícil uma pessoa perceber e aceitar que está em um relacionamento abusivo?
E quando percebe, já notou que é muito difícil ela conseguir sair deste relacionamento?
Pois bem! As informações do que vou escrever aqui foram descobertas a partir de um pequeno estudo que fizemos em uma disciplina em uma universidade pública aqui de São Paulo. Não foi uma pesquisa válida para publicação, mas valeu para aprendizado de como fazer pesquisa e de como analisá-la.
Na ocasião, entrevistamos quatro mulheres que buscaram ajuda de um serviço de internet, pois estavam em um relacionamento abusivo.
Não vou descrever como foi a entrevista e nem vou detalhar como foi o procedimento. Acho que as hipóteses que fomos construindo ao longo do processo foram as mais importantes.
Quais foram as características que mais apareceram nessas relações?
• Todas elas contaram sobre uma história de vida de muito sofrimento na infância.
• Na maioria das situações, os parceiros “abusadores” eram dependentes de alguma substância química, em geral, o álcool.
• Essas mulheres acreditavam que seus parceiros mudariam, o que nós chamamos de “Síndrome de Heroína”.
• Sentimentos de onipotência x vitimismo. Lembra que eu falei no outro post que nesses casos aparecem pelo menos dois papéis? Nesse caso, é isso: papel de onipotente (“Eu aguento!”) e o papel de vítima (“Ele abusa de mim!”)
• As histórias contadas por elas continham uma crença de que as relações delas eram diferentes de todas as outras. Nós chamamos de “Mito da Relação”, tipo um conto de fadas. “Ele me ama!”, “Fomos feitos um para o outro!”, “É minha alma gêmea!”, “Ele fala que eu sou a mulher da vida dele!” E outras frases parecidas!
• Elas não veem a violência psicológica como uma violência, dizendo que nunca sofreram uma violência física (apesar de terem sofrido sim). Elas protegem seus parceiros. Ah, violência psicológica é quando o cara te coloca pra baixo, quer escolher a sua roupa, diz que você se comporta mal ou te chama de “puta”, algo assim. E, você sabia que quando alguém quebra coisas, como jogar coisas na parede, quebrar copos etc. também é uma violência e se chama violência patrimonial?
• Nenhuma delas se lembra como e quando começou a violência. Tenso, pois se vocês pararem para prestar atenção na relação, você vai perceber. Só que elas não querem acreditar que estão vivendo isso.
• Sentimentos ambivalentes: raiva/medo x amor/apego. Novamente os papéis se misturam...
• Elas não conseguem perceber que o “lado bom” e o “lado mau” dos parceiros fazem parte da mesma pessoa. Ou só veem o “lado bom” ou só veem o “lado mau”, mas sempre acreditam que esse “lado mau” vai desaparecer. “Ele é uma pessoa de bom coração!”, “No fundo ele não quer me fazer mal.” etc.
É muito comum a pessoa se isolar de seus amigos, familiares e, algumas vezes, largar o trabalho. Não foi o caso dessas mulheres, que, na maioria, são mulheres com bons cargos e acabam sustentando seus parceiros!
Sempre gosto de indicar um vídeo da Jout Jout Prazer, “Não tira o batom vermelho” que fala de uma maneira leve sobre os relacionamentos abusivos.
O que pode ajudar uma pessoa a sair de um relacionamento abusivo? Grupos de apoio, psicoterapia, apoio jurídico (se for o caso), resgatar sua rede de amigos e família.
Sempre lembrando que o relacionamento abusivo pode acontecer em qualquer relação, seja ela hétero ou homoafetiva.

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