COMO FAZEMOS ESCOLHAS AFETIVO-SEXUAIS (segundo a Sociometria)

Sociometria é a ciência que estuda e mede as relações interpessoais. É um ramo do que popularmente chamamos de Psicodrama (a forma correta de toda a teoria chama-se Socionomia).
Este artigo não se trata de orientação sexual, mas sim de escolhas das pessoas com quem queremos estar afetivamente e/ou sexualmente.
Bem resumidamente (e reduzidamente), uma das partes da Sociometria trata de estudar como as pessoas fazem escolhas, incluindo as de relacionamento afetivo-sexual. Estas são baseadas em critérios e obedecem uma ordem hierárquica de preferência de cada pessoa ou de um grupo de pessoas ou instituições (que contém um grupo) e por aí vai.
Muitas vezes utilizo o olhar sociométrico para ajudar pacientes a tomarem decisões não só de escolher uma pessoa, mas também de separar. É quase um “choque” de realidade em alguns casos.
Primeiramente é importante saber sobre um conceito super importante do Psicodrama: a teoria de papéis. O que é isso? Bom, toda relação é composta de, pelo menos, dois papéis complementares, por exemplo, mãe/pai-filh@, professor@-alun@, passageir@-motorista, namorad@-namorad@ etc.


Cada um entende seu papel de uma maneira. Dentro do nosso assunto, cada pessoa procura um par por motivos próprios. Uma pessoa pode procurar alguém pra casar, outra pra namorar, outra pra transar, outra para ser amig@... Esse é o primeiro critério.
Vamos supor que a pessoa X quer alguém para namorar. A próxima pergunta é: “O que ‘namorar’ significa pra você?” Ou seja, “O que você busca num@ namorad@?”
A pessoa pode responder: “Quero alguém que seja companheir@, que seja trabalhador@, que me compreenda, que queira viajar, ir a shows e restaurantes etc.”. Clichê, né!?
Veja que parece muito fácil escolher dessa forma. Se fosse fácil, a lógica dos aplicativos de relacionamento teria mais gente elogiando do que reclamando. Você vê uma pessoa que te agrada fisicamente e pela qual você se sente atraída, lê o perfil e acha legal, analisa as fotos e parece que a pessoa tem gostos parecidos. Você dá um like, se for recíproco dá um match. Vai num date com a pessoa. E... volta reclamando que não era essa sua expectativa!
(Pelo menos na minha prática clínica e no convívio com outras pessoas é mais fácil ouvir gente reclamando do que vendo gente satisfeita. Claro que tem suas exceções. Conheço alguns casais que se conheceram nos apps. Como diria uma amiga minha, as “Tinderellas”. Mas é mais exceção do que regra!)
Bom, vamos deixar o negócio mais complexo.
Vamos aprofundar nos conceitos: “O que é ser companheir@ pra você? Trabalhador@ como? O que é compreender pra você? Viajar pra onde? Que tipo de shows? Que tipo de restaurantes? etc.”
“E o que você não toleraria num relacionamento?”. “Oi?”. Sim, essa parte é muito importante, pois, geralmente, te leva a algum valor muito importante seu e esse critério tem um peso muito grande. E, provavelmente, você vai demorar um pouco mais de tempo para reconhecer isso na outra pessoa. A não ser que seja uma característica berrante, isso você vai perceber com a convivência.
...
Próxima pergunta: “Onde você vai encontrar esse tipo de pessoa?”
Parece óbvio, mas, curiosamente, muitas pessoas buscam de forma incoerente, o que me leva a duas questões diferentes: 1) “Você está buscando no lugar certo?” Ou 2) “Talvez, no fundo, você não queira realmente namorar.” Juro que esse tipo de questionamento dá conflito nas ideias. Você já parou pra pensar nisso?
“Como assim?”, você pode perguntar! E eu digo: “É isso mesmo!” Talvez um lado seu queira se relacionar, mas o outro pode sentir tanto medo que acaba sabotando o lado que quer e faz com que a pessoa realize coisas incoerentes. O medo pode ser de diversas naturezas: experiências que causaram sofrimento, modelos de relacionamentos “fracassados”... Isso quando são apenas dois lados dentro da mesma pessoa. E quando tem mais de duas partes?
Isso é muito comum em relações abusivas e relações de codependência. Mas deixamos essa especificidade para outra postagem.
Aí complicou, hein! E vai ficar ainda mais complicado!
Depois de todo esse trabalho de reflexão e de tomar consciência das facilidades e das dificuldades do que você busca num relacionamento, aquela parte que ninguém gosta. “O que o outro quer?” Pois é, o outro também tem seus próprios sentimentos e desejos.
Agora me dei conta de uma outra teoria psicodramática, a da Psicopatologia Psicodramática que aprendi com o psicólogo e psicodramatista Rosalvo Pires e que traz três questões:
1) “O que você sente, quer e deseja?”
2) “Você se percebe agindo?”
3) “O que o outro sente, quer e deseja?”
São questões poderosas!
Mas, voltando à Sociometria, os critérios precisam ter reciprocidade e, para saber o que o outro quer, você precisa ter o que chamamos de perceptual télico bem afinado. Perceptual télico é perceber o outro do jeito como ele é. Aqui há um cuidado, pois as pessoas tendem a criar expectativas de coisas impossíveis de atingir e ter um bom perceptual télico ajuda a ser mais realista também.
Além disso, tem vários sentimentos envolvidos, projetos de vida e por aí vai! E nunca vai acontecer de todos os critérios serem recíprocos, aí o relacionamento exige uma negociação das duas pessoas envolvidas! Essa negociação está cada vez mais difícil nos casais, pois muita gente quer ser autônoma e confunde isso com “não abrir mão”! Mas, enfim... Se eu fosse escrever todas as variações, isso seria um livro e não um post de blog.
É, meus caros! Por isso que se relacionar não é tão simples assim!
Ah, e o que fazer naqueles casos em que a pessoa tem duas partes que brigam e se sabotam entre si? Bom, claro que eu recomendo psicoterapia.
E para aquelas pessoas que estão em dúvida se querem continuar ou separar da pessoa atual? Vou deixar essa para outro post também!

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas