“ALGEMA DE EMOÇÕES” “PSICODRAMA DA AUTOSSABOTAGEM” DO DIA 09/11/2018



A autossabotagem se caracteriza por uma série de comportamentos inconscientes e repetitivos que surgem ao longo da nossa vida e que nos impede de conseguirmos realizar aquilo que queremos.
Como vocês sabem, no psicodrama o grupo escolhe a pessoa que vai dramatizar, esta recebe o nome de protagonista.
O grupo teve cinco candidatos com as cenas que tinham os seguintes nomes: “Algema de emoções”, “Âncora”, “Colocar no colo do outro”, “Caminhar para o sucesso” e um que apareceu depois, “Obsolescência”. A cena escolhida foi a “Algema de emoções”, situação de autossabotagem trazida por quem chamarei de Bia, que era muito parecida com a “Âncora”.
Começamos a cena na sala da casa de Bia. Ela sentada no sofá pensando as milhões de coisas que deveria fazer: escrever relatórios, fazer os posts nas suas redes sociais, enviar currículos... Escolhemos três pessoas. Cada uma desempenhou o papel de suas atribuições. Estas a cercavam e ficavam falando na sua orelha o “Você deve...”.
Nesse momento Bia começa a se sentir algemada pelos punhos. Uma pessoa veio representar essa algema, segurando os punhos dela, que começa a sentir vontade de sair pra dançar ou pra fazer qualquer coisa que seja um entretenimento, qualquer tipo de distração está valendo.
Ela sente que seus pés querem sair dançando, mas sente-se presa. Uma pessoa da plateia segura seus pés. (Fazemos isso para que ela veja de forma concreta as sensações que traz no palco do psicodrama.)
Fica um embate entre os “deveres”, as algemas nas mãos e nos pés e a vontade de Bia de ir pra balada, como uma criança que só quer brincar.
Trazemos, então, a Bia com 3 anos de idade, que brinca tranquilamente com seus brinquedos: bonecas, carrinhos, brinquedos de montar... Ela está muito bem sozinha, mas se lembra que em breve nascerá seu irmãozinho (que nasceu 1 ano depois dessa cena).
Colocamos uma pessoa para desempenhar o papel de Bia de 3 anos. Ela está tranquila e fica na cena o tempo todo, fazendo-a se lembrar de que aos 3 anos de idade está tudo bem e confortável.
Montamos tipo uma linha do tempo com a criança em um extremo, a situação atual da casa de Bia no centro da linha e no outro polo uma pessoa representando a “obsolescência”, que, enquanto a cena do presente se desenrola numa procrastinação dos deveres, ela vai definhando até chegar a “quase morte”.
Bia não consegue trazer sensações diferentes, então colocamos alguém no seu lugar e a tiro da cena para que ela possa ver a situação à distância. De dentro da cena Bia fica incomodada, mas as pessoas da plateia, eu e os complementares da cena temos a nítida impressão de que a situação vai ficando cada vez mais confortável, conforto este que não é notado e nem é consciente para a protagonista em questão.
Pergunto o que Bia sente vontade de fazer quando vê essa cena de fora. Ela sente vontade de tirá-la da cena, mas sem fazer nenhum esforço real, nem mesmo corporal. Fica verbalizando que ela tem que se mexer, pois pessoas mais jovens vão tirar seu lugar no mercado de trabalho e que esses jovens fazem as coisas com mais rapidez e criatividade, como se Bia fosse uma pessoa já obsoleta e fora do mercado (como a Bia do futuro).
Quando ela entra no lugar da obsolescência, se identifica demais com esse papel e diz que é assim mesmo que ela se sente.
Detalhe: Bia é bem jovem, mas traz um discurso de uma pessoa idosa. Pergunto de quem vem esse discurso, mas ela diz que é dela própria e que ela constata isso no mercado. Mas, quem vê de fora (inclusive eu), continua achando que é um discurso pronto que não condiz com seus sentimentos.
Impeço que Bia verbalize muito, pois ela é muito racional e tende a construir discursos prontos ao invés de entrar em contato com seus sentimentos.
Aparece mais um personagem: a Bia que joga a responsabilidade para o outro, mas que também não age.
A cena vira um caos, mas cada vez mais vai parecendo confortável.
Durante essa cena a protagonista vai pedindo orientação de qualquer pessoa, não sabe de quem e não sabe de onde. Entra mais um personagem que tenta ajuda-la a encontrar seu caminho, pois não sente mais prazer no que faz, não dá conta de ser autônoma e se sente perdida.
Uma das egos-auxiliares (pessoa que entra desempenhando algum papel na cena), começa a querer sair e empurra todo mundo. Não permito, pois esse seria o desejo da própria pessoa que desempenha o papel e não a Bia na cena. (No psicodrama, apenas a própria pessoa que traz a história pode mudar seu comportamento na cena.)
Peço para as pessoas que se candidataram no início para irem para os respectivos papéis que nomearam e que apareceram na cena: “Obsolescência”, “Âncora”, “Colocar no colo do outro” e “Caminhar para o sucesso”.
A Bia de 3 anos continua feliz e contente brincando sozinha. Está super confortável e tranquila brincando sozinha.
Mas a Bia da cena atual sente muito medo de ficar sozinha. Não quer mais levar esses valores arcaicos que aparecem no modelo de trabalho de seu pai. Apesar de ter dito isso na cena, ela não se dá conta da influência paterna nas suas decisões profissionais. Uma das ego-auxiliares tenta sinalizar, mas ainda é difícil para Bia enxergar essa identificação com o pai.
A confusão na cena reflete o que está se passando dentro de Bia.
Peço para as pessoas da plateia se manifestarem caso sinta vontade. Uma das pessoas levanta e pergunta pra Bia: “Por que você não pode trabalhar com o que gosta? Por exemplo, com eventos?”
Nesse momento a protagonista fica aliviada, relaxada e consegue sair tranquilamente das algemas que as prende. Ela enxerga alguma possibilidade de mudança, porém articulando com a experiência que tem até hoje, sem “começar do zero”. (Afinal, mesmo que mudemos nosso rumo, nunca começamos do “zero”!)
Os complementares dizem que ela se libertou realmente, que não foi forçado!
Finalizamos a cena e sentamos para compartilharmos a cena. Cada um falando a partir das próprias sensações. Muitas pessoas se identificaram com a mudança de carreira, a dificuldade em realizar os deveres, com a falta de projeto profissional para o futuro e até houve um compartilhamento de uma pessoa que sente muita dificuldade de interagir socialmente e que desempenhou um papel na cena e depois compartilhou essa fala com o grupo.
Foi uma cena carregada de situações, de tensões, mas que sua resolução trouxe um alívio momentâneo e uma direção para um projeto profissional. Mas essa parte fica para outra vivência.
Mais uma vez o “Psicodrama da Autossabotagem” demonstrou ser uma vivência forte e que evoca sentimentos profundos nas pessoas que participam dela.

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