“INADEQUAÇÃO” – Como foi o Psicodrama em Ato do dia 30/08/2018


Três pessoas candidataram as suas histórias: a “Inadequação”, a “Rejeição” (com uma história bem parecida) e um momento de medo em relação a uma situação atual, na qual a pessoa recebeu o acolhimento do grupo.
A história escolhida foi a “Inadequação”! Chamarei a protagonista de Juliana. No início da cena ela se coloca no canto da sala, de costas, como quem está de castigo. Diz que as pessoas vão dizer que ela é inadequada! Ela começa a ter a sensação de que seu pai está por perto!
Resolvo fazer a cena em câmera lenta por conta da carga emocional de Juliana.
Ela escolhe alguém da plateia para representar o seu pai, mas não consegue interagir com ele. Decido coloca-la no papel de pai e, quando ela entra nesse lugar, preciso tirá-lo de perto dela para que eu consiga conversar com ele, que a trata como se fosse uma amiga da mesma idade, oferecendo bebida desde que ela beba somente em casa e a desqualifica. A ego-auxiliar (pessoa que entra nos papéis da cena dramatizada) entra no papel de pai e começa a interação. J. se sente paralisada e não consegue encará-lo. Ele a coloca pra baixo, a depreciando por ela se parecer com a mãe, e ao mesmo tempo a coloca bem próxima dele.
J. sente a presença da mãe e escolhe alguém da plateia para representa-la. Também não consegue encara-la e nem interagir com ela. Faço a mesma coisa que fiz com seu pai. A chamo de canto e converso com ela, que se sente isolada dessa relação entre pai e filha, dizendo que não consegue participar, que acha que sua filha está perdida e não vai ser nada na vida.
Os três começam a interagir. J. quer a atenção da mãe, mas ao mesmo tempo a repele por esta ser agressiva e gritar muito em alguns momentos, preferindo, então, ficar com o pai, mesmo sentindo muito medo dele.
Tanto o pai como a mãe aparecem com um lado muito bom e um lado muito mau, J. não consegue integrar esses dois lados em seus pais, o que causa muita dúvida para qual lado deve ir. Os dois brigam por causa dela, que se sente inadequada não só nessa situação, mas em todos os lugares por onde vai.
A mãe, ainda incomodada com a proximidade entre pai e filha, começa a dizer que sua filha será uma bêbada, drogada e que sofrerá várias consequências no futuro e que tudo dará errado pra ela, como se estivesse fazendo uma profecia. Pergunto o que ela esperava de sua filha, que diz que ela deveria conhecer um homem muito rico e que desse as coisas pra ela.
Ela se defende falando das coisas que conquistou: trabalho, filho, amigos, superação das drogas e do álcool.
Apesar dos sentimentos ambivalentes em relação à sua mãe, diz que admira o lado forte e enérgico dela e que isso, hoje, faz parte de sua vida. (Esse é um indício de que está integrando os dois lados de sua mãe, podendo, então, selecionar o que lhe serve.) Ainda quer o carinho da mãe, mas não consegue receber da forma como a mãe oferece esse afeto.
Começa a sentir suas pernas fracas e se senta. Sente que está por si só. Pergunto quem pode ajuda-la nesse momento. Ela diz que ninguém pode ajudar e que sente que está sozinha mesmo. Escolho a pessoa que levou a cena da rejeição para representar a outra Juliana e coloco uma de frente para a outra. Essa é uma conversa de Juliana com Juliana. Uma começa a falar pra outra o que passou, o que sente, a raiva e a inconformidade pelo que seus pais fizeram com ela e a sensação de inadequação. Elas dialogam por bastante tempo. Elas fazem um pacto de uma sustentar a outra, agora que tem um filho e quer fazer diferente do que seus pais fizeram (e vai nomeando cada conquista que fez em sua vida).
Por outro lado, a questiono sobre deixar outras pessoas entrarem e de não deixar seu filho vivendo num mundo muito fechado. Ela diz que o filho tem amigos e está indo bem. E, em relação aos relacionamentos, está trabalhando nisso para permitir que alguém entre, porém ainda é difícil deixar, já que pensa que o outro vai julgá-la.
Quando a cena termina, peço para a ego-auxiliar que estava fazendo o papel da outra Juliana assumir seu próprio papel (a chamarei de Lúcia) e digo que na frente dela tem outra Lúcia. Digo para ela fazer um pacto consigo mesma em relação às rejeições que sofreu (lembrem-se que ela foi a pessoa que levou a cena da “Rejeição”)! As duas conversam brevemente fazem um pacto uma com a outra.
As pessoas compartilham suas histórias e o que sentiram com a cena de Juliana. No Psicodrama não falamos da história do outro, não julgamos, nós compartilhamos o que ressoou a partir da cena do protagonista.
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O Psicodrama em Ato acontece toda última quinta-feira do mês, das 19h30 às 22h, no Instituto Casa do Encontro. Informações: contato@casadoencontro.com.br

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