COMO FOI O “UM CLIQUE NO MEU CRUSH” – “ESSA É A CENA!”


Dessa vez tivemos muitos candidatos a trabalharem sua história. A escolhida foi a "Essa é a cena!". Chamarei sua autora/protagonista de Bruna.
A cena começa num restaurante, no qual Bruna está com o cara com quem ela está saindo, Manuel, que é, então, representado por uma pessoa da plateia (a quem chamarei de Daniela). Os dois não estão em sintonia com o que querem da relação. Ela, muito ansiosa, quer saber o porquê, mas parece que Manuel não tem uma resposta. Inverto diversas vezes a posição dos dois, colocando Bruna no lugar de Manuel e vice-versa. Peço uma imagem e um movimento de como ela se sente na relação com ele, mas ela não consegue representar. Coloco-a fora da cena e peço para alguém da plateia representa-la, de maneira que ela possa ver essa situação à distância. Peço para essa pessoa mostrar um movimento de como está se sentindo. Ela segura mãos com mãos e pés com pés, dando uma sensação de desconforto. Essa imagem é confirmada por Bruna, que volta para a cena e dá andamento na situação. Em uma das conversas, inverto novamente a posição, colocando Daniela no papel de Bruna e Bruna no papel de Manuel. Daniela trava nesse lugar. Bruna se identifica, mas percebo que não é Bruna quem está paralisada e, sim, a própria Daniela. Trago, então, a cena de Daniela com o intuito de “destravá-la” para podermos dar seguimento à cena de Bruna.
Daniela traz a cena em que não consegue falar coisas para seu ex (representado por outra pessoa da plateia), mas mantenho Bruna no papel de Manuel na cena, ao lado do ex de Daniela. Esta trava na frente dele e somente pergunta porquê ele mentiu e porquê não contou a verdade. Inverto os papéis e, no papel de ex, Daniela começa a sentir um embrulho no estômago e sentir vontade de vomitar, dizendo que não consegue nem olhar pra cara dela, pedindo para ficar de costas pra ela. Eles tentam um diálogo dessa forma, mas ainda é difícil. Falo para ele contar a verdade a ela e ele diz que desinteressou. Quando inverto as posições novamente, ele consegue sentar de frente pra ela. Dou uma apertada e ele finalmente diz que o relacionamento não era o que esperava e que desinteressou dela, mas que não teve coragem de falar a verdade. Daniela começa a ter uma sensação de que sua mãe está atrás dela colocando ideias em sua cabeça. Colocamos uma ego-auxiliar representando sua mãe, que fala que ela tem que ser igual a ela (mãe) e, ao mesmo tempo que “bate”, também “assopra”, dando uma sensação ambivalente em relação ao cuidado e à manipulação. Filha não quer se igual à mãe, pois acha-a triste e fracassada no relacionamento.
Pergunto se alguém do grupo está se identificando com essa situação. Bruna se identifica, assim como quase todas as pessoas do grupo. Deixo livre para virem à cena e dizerem o que sentem e pensam para aquela mãe (no caso, a mãe de cada um). Uma das pessoas do grupo não só se identifica com aquela relação com a mãe, como insere o pai na cena.
Cada um vai falando o que sente, pensa e o que quer de seu pai ou sua mãe. As pessoas vão demonstrando tristeza, decepção, pena, raiva... Muitos deles pedem reconhecimento aos pais, cada um com sua história particular.
Peço para cada um dizer o que pode começar a fazer para transformar a relação, sem esperar nada do pai e/ou da mãe. O importante é que cada um se apodere da responsabilidade que tem na relação, buscando o protagonismo em sua própria trajetória.
A protagonista, Bruna, que descarregou sua raiva em sua mãe, não quer fazer nada em relação à mãe. No Psicodrama ninguém é obrigado a fazer coisas que não quer, então, prosseguimos com a sessão e retornamos à cena inicial com Manuel.
Dessa vez a conversa se desenrola de outra maneira e com outra postura. Aquele movimento de segurar as mãos e os pés já não fazem mais sentido naquele momento, havendo uma transformação de prisão para cuidado. Podemos ver a potência da protagonista, além de ter mais tolerância e compreensão nessa cena final.
Bruna entrou na cena cabisbaixa e triste, saiu potente, tolerante e esperançosa em relação a esse possível relacionamento.
Compartilhamos os momentos e os sentimentos dessa experiência emocionante e forte.

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