J. L. MORENO E A CASA DO ENCONTRO

“Todos nos comprometemos a compartilhar do anonimato, do amor e da doação, levando uma vida concreta e direta na comunidade com todos os que encontrávamos.” (J. L. Moreno)


O Instituto Casa do Encontro foi fundado oficialmente em 5 de fevereiro de 2018 por Gil Mori e Mariana Kawazoe. O nome escolhido é uma homenagem à Casa do Encontro fundada por J. L. Moreno, o criador do Psicodrama, em Viena no início do século XX, junto com um filósofo e mais três médicos, que se dedicaram à prestação de serviços sociais junto à comunidade que vivia uma fase de exclusão e que antecedeu a Primeira Guerra Mundial.
J. L. Moreno, nascido em 18 de maio de 1889, um turco-romeno, que se dizia nascido no meio do oceano e, portanto, uma pessoa do mundo, teve uma vida cheia de experiências, que posteriormente se convergiram no que hoje chamamos de Psicodrama.
Depois de passar por situações de exclusão, uma situação de quase morte e de receber uma profecia de uma cigana de que ele seria um grande homem, o menino Jacob (ou Jacques) cresceu sendo incentivado pela mãe a ser um grande gênio, um prometido, um profeta.
Na adolescência, ele mesmo relata que tinha um comportamento considerado estranho pelos seus irmãos, os quais nem o chamavam pelo nome. Logo não moraria mais com sua família.
Influenciado por leituras religiosas, filosóficas e estéticas, tais como Kierkegaard (filósofo), Cabala (movimento místico judaico), a Bíblia Sagrada e Goethe, J. L. deixou sua barba crescer, usava uma capa verde e adotou uma vida diferente dos demais e doou-se aos serviços àqueles que também eram excluídos da sociedade.
Nessa época, conheceu Chaim Kellmer, com quem desenvolveu outras ideias sobre a vida e a espiritualidade, fundando, então, a religião do encontro.
Esta nasceu em Viena entre 1908 e 1914. Eram 5 jovens: Moreno, Chaim Kellmer (estudante da Cabala e professor de Filosofia), Hans Feda (jovem tchecoslovaco, amigo de pessoas importantes), Hans Brauchbar (doutor em Medicina) e Andreas Petö (desenvolveu um método para tratar crianças com problemas motores).
Nas palavras do próprio Moreno: “Minha nova religião era a religião do ser, da autoperfeição. Era a religião da cura e da ajuda, pois ajudar era mais importante do que falar. Era a religião do silêncio. Era a religião de fazer uma coisa por ela mesma, sem prêmio, sem reconhecimento. Era a religião do anonimato.” (Autobiografia)
Todos os serviços prestados pelos integrantes do grupo eram pagos com presentes e doações feitos em um fundo da Casa do Encontro. A casa era um lugar onde todas as pessoas recebiam acolhimento, muitas vinham de longe porque tinham ouvido falar. Arrumavam trabalho, assistência médica e davam abrigo. Era um lugar para imigrantes e refugiados. Nas paredes da casa estava escrito: “Venha a nós de todas as nações. Nós lhes daremos abrigo.”
Os primeiros grupos de encontro que aconteceram na casa eram sessões nas quais os problemas e os ressentimentos eram trazidos e desfeitos. Além disso, eles cantavam, dançavam e jogavam. Diz Moreno que esse foi o primórdio dos trabalhos terapêuticos grupais.
Nesse período da Primeira Guerra Mundial, J. L. se associou aos existencialistas, reconhecidos pelas suas barbas, que, segundo as palavras de Moreno, “[a barba] Era um símbolo de sua masculinidade natural e um desafio tanto aos burgueses como aos simpatizantes comunistas, como algo que cresce a seu modo e não fica parado. Era, pois, o emblema da liberdade do indivíduo de ser [...]” (Autobiografia)
Princípios deste grupo: 1º) “Inclusão total do ser”; 2º) A bondade, “a bênção natural de todas as coisas existentes”. É daí que vem a ideia do “momento” e as ideias de espontaneidade e criatividade como processos universais de conduta.
Um tempo depois, ele começa a rascunhar o que seria a Sociometria, a partir de duas hipóteses: 1) Proximidade espacial: devemos dar aceitação e atenção àqueles que estão mais próximos no nosso dia-a-dia; 2) Proximidade temporal: devemos dar atenção primeiro ao aqui e agora e depois aos outros tempos.
Assim, sua teoria vai se construindo a partir das suas experiências de vida. Vieram: teatro da espontaneidade, os treinos da espontaneidade e, então, o Psicodrama.
Moreno se considerava protagonista, dramaturgo e produtor de sua própria vida.
Aqui está um esboço da vida do criador do Psicodrama. Vale a pena ler a biografia e a autobiografia de J. L. Moreno para ter uma compreensão maior sobre a filosofia e a teoria psicodramática.

Referências bibliográficas:
FOX, J. O essencial de Moreno. Textos sobre psicodrama, terapia de grupo e espontaneidade. São Paulo: Ágora, 2002.
MARINEAU, R. F. Jacob Levy Moreno 1889-1974. Pai do psicodrama, da sociometria e da psicoterapia de grupo. São Paulo: Ágora, 1992.
MORENO, J. L. Autobiografia. São Paulo: Daimon/Ágora, 2014.

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