Cada ambiente um comportamento: patologia ou normalidade?

Recebi uma reflexão do "fabrixvieira" que surgiu a partir da leitura do tópico sobre Expansividade Emocional.
Ele comenta:

"Quanto a expansividade emocional me surgiu uma questão quanto a qualidade das relações.
- Há diferenças de comportamento no relacionamento em uma equipe de trabalho e relações pessoais. O ambiente influi na maneira de se relacionar inclusive alterando padrões de comportamento de algumas pessoas. Questões como pressão, estress, competitividade podem prejudicar, e por que não dizer, confundir um padrão natural de relacionamento de uma pessoa. Isso pode ser considerado uma patologia psiquica ou é natural diferentes condutas para diferentes ambientes?"

Fabrixvieira, é natural diferentes condutas para diferentes ambientes.

Cabe aqui o conceito de "papel" utilizado pela sociologia e pelo psicodrama. Seguirei o psicodrama, já que é a linha teórica que conheço melhor.
Os papéis sociais, denominados por Moreno, têm funções sociais e carregam elementos socioculturais e privados, ou seja, o sujeito está inserido em uma determinada sociedade e em uma determinada cultura e também traz características pessoais. Os papéis sociais recebem nomes, tais como, profissional, mãe/pai, irmã/irmão, etc. De cada papel é esperado uma certa conduta e depende do ambiente no qual ele está inserido. Por exemplo, no caso do papel profissional há diferenças em cada profissão, para um advogado é esperado que ele seja sério, utilize roupas mais formais, conheça as leis de determinado país, etc.; já para um treinador de equipe esportiva é esperado que ele use roupas mais despojadas e confortáveis, que ele seja extrovertido, que tenha uma alimentação e um padrão de vida mais saudáveis, etc. Porém, existem características pessoais que variam de pessoa para pessoa. Um profissional pode ser mais extrovertido e outro introvertido, um pode ser mais brincalhão e outro ser mais sério, e por aí vai.
Há adequações em cada situação, algo que se faz na vida pessoal pode não caber na sua atuação profissional. Se a pessoa gosta de tomar uma cervejinha ou gosta de ouvir rock, ele não precisa levar isso para sua atuação profissional, pois não cabe naquela situação. Ou então, fazer uma piada no meio de um processo criminal, por exemplo. Porém, em algumas profissões isso é "permitido".
Essa adequação do papel depende do grau de espontaneidade-criatividade de cada pessoa. Para o psicodrama, espontaneidade-criatividade é a forma como se lida com cada situação, seja ela uma situação repetida ou uma nova situação. No termo comum podemos até chamar de "jogo de cintura". Essa espontaneidade-criatividade pode ser desenvolvida, dando ao seu papel social uma certa liberdade de atuação, deixando a pessoa mais confortável e mais segura nesse papel. Imagine uma mãe de primeira viagem que nunca teve contato próximo com bebês. Essa mãe construirá o seu papel, sua forma de ser mãe, seguindo os padrões socioculturais de onde vive, trará experiências de sua própria vida a partir de um modelo já conhecido e dará o seu toque com suas características pessoais.
No caso de pessoas que mantêm sempre o mesmo padrão de conduta em diversos ambientes, não conseguindo ter um mínimo de espontaneidade-criatividade, podemos dizer que ele tem um papel conservado. São inadequações de papel. Moreno chama isso de patologia. Muitas vezes, a pessoa pode, sim, estar enquadrado em alguma psicopatologia. (Não gosto muito desses enquadramentos, mas é como se classifica por aí.) E em outras vezes é apenas uma inadequação que pode ser treinada.

Espero que eu tenha respondido à sua questão ou que, pelo menos, tenha suscitado outras reflexões.

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